domingo, 4 de março de 2012

iZILDINHA, vAVÁ e a Tropa de Elite

iZILDINHA estava disposta a acabar com o marido. Literalmente. Não no sentido de romper com ele. Mas, de eliminá-lo, se possível, para sempre. Apagá-lo de sua vida, como se apaga um desenho ou um texto malfeito.

Matá-lo ou mandar matá-lo ia dar muita mão-de-obra. Teria que contratar um pistoleiro, sumir com o corpo... Pensou, então, em infernizar-lhe tanto a vida, que ele acabaria jogando a toalha e “pedindo para sair”, como se dizia lá, em Tropa de Elite.

Começou salgando demais a comida. Mas, não adiantou. O apaixonado vAVÁ comia com bom gosto e, ainda, fazia declarações de amor.

Tentou, então, usar roupas extravagantes, shorts, literalmente curtos, daqueles que mostram a nascente da cachoeira e mais o céu estrelado na garganta do diabo. Não adiantou! O marido dizia que ela estava cada vez mais linda. E, ainda, ficava excitado. E nada de pedir para sair.

Ela decidira que não estava mais para brincadeira e que iria jogar pesado.
Quando chegava do trabalho, escancarava toda a casa (portão, portas e janelas, tudo bem aberto) e trocava de roupa bem à vontade.

Era um show, que já tinha platéia cativa diariamente. O vizinho da frente chegava mais cedo do trabalho, ligava o som do carro para ouvir Dino Rocha e Zé Correia, instalava sua cadeira de praia numa posição privilegiada, a fim de esperar pela chegada e pelo “show” de iZILDINHA, que, antes de trocar de roupa, circulava pelada pelo interior da casa.

Os vizinhos do fundo – soldados - parte de um batalhão da PM, colocavam som de “Fânky” pornográfico para tocar, abriam umas cervejas e só ficam à espera do espetáculo sensual diário.

A coisa já estava fugindo do controle. Os vizinhos dos lados subiam nos muros, com a desculpa de procurar a bola que havia caído no quintal de iZILDINHA.
Não adiantou.

vAVÁ chegava a casa, via aquela agitação toda. Mas considerava normal. Cumprimentava a todos com muita educação. Os vizinhos, todos amigos dos peitos, respondiam com um largo sorriso. – “Tudo bem, seu Vavá?!!!???” – “Cada vez melhor. E vocês????”
iZILDINHA resolveu adotar medidas drásticas. Começou a receber em casa, os vizinhos, para visitas íntimas, atendendo critérios geográficos ou os pontos cardeais (Leste-Oeste- Norte-Sul).

Primeiro, o vizinho dos lados, os vizinhos do lado direito e, assim, sucessivamente. Já havia chegado ao SUL, quando vAVÁ começara a desconfiar. Mas, aí, o batalhão todo já havia sido passado em revista.

Como última tentativa, iZILDINHA deixou uma cueca sobre a cama e preservativos recém-usados, bem à mostra.

Deparando-se com aquele material, mas, sem perder a calma, vAVÁ segurou um preservativo, devidamente usado, e perguntou:

- O que é isto, mulher?

E, iZILDINHA, encoleirizada, respondeu:

- “Você ainda não conseguiu perceber, homem? Então, pede pra sair, corno, otário!”.
Nunca mais foram felizes para sempre.

iZILDINHA continua por aí.

vAVÁ passou um temporada nos Alcoólicos Anônimos da igreja Cristo Luz dos Povos. Depois, num abrigo para tratamento psiquiátrico. Mudou-se para o Paraguai e nunca mais se ouviu falar dele.


O vizinho da frente teve um infarto e morreu.

Do batalhão da PM, a maioria virou oficial e atua em trabalhos burocráticos. O chinelo de um dos guerreiros ficou abandonado no quintal de iZILDINHA e vAVÁ.
As bolas que caíam no quintal de iZILDINHA nunca foram encontradas.

Essa uma estória, portanto ficção. Qualquer semelhante com fatos, lugares, pessoas, instituições ou objetos é mera coincidência....

(Se você morou perto de um batalhão de soldados PM, a culpa não é minha.)
...O drama da vida real é muito mais cruel.


TROPA DE ELITE – TIJUANA
“agora o bicho vai pegar”
(...) “Não dá bobeira não
"Cê" tá na minha mão
Segunda-feira é só história "pra" contar
Não vem com ideia não
Não quero confusão
Mas vamo junto que hoje o bicho vai pegar”...
http://letras.terra.com.br/tihuana/48914/

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