quarta-feira, 2 de outubro de 2013

QUEREM LEGALIZAR O BARULHO: ESTUPRO DE OUVIDO, INCOMPETÊNCIA OMISSÃO E NEGLIGÊNCIA

         Com raras exceções, o perfil do ESTUPRADOR DE OUVIDO é: óculos escuros, boné com a aba virada para trás, ou chape de boiadeiro, pilotando lata velha, mas com som potente; pilotando camionete de agroboy ou cowgirl com pai rico, carrão com vidros totalmente escuros; moto tunada, com escapamento muito barulhento. Esse é o tipo de cidadão (sic) que, constantemente, está envolvido em casos de consumo e tráfico de drogas, acidentes fatais de trânsito, sequestro, roubo, estupro, porte ilegal de armas, assassinato e o que há de pior na nossa sociedade. Mas, estranhamente, essa espécie circula livremente, pelas ruas de Campo Grande-MS, estuprando os ouvidos das pessoas civilizadas, com o lamentável aval de parte das polícias e das autoridades responsáveis (sic).

É incompreensível e inadmissível que a maioria de nós não consiga andar meio quarteirão sem cair em uma blitz, caso não tenhamos pagado nosso IPVA e caso não tenhamos pagado para licenciar nossos veículos. Mas, o ESTUPRADOR DE OUVIDO, esse espécime raro da humanidade, consegue circular pelo estado de MS inteiro, estuprando os ouvidos das pessoas civilizadas, gozando de “imunidade”, em diversos níveis e em diversas esferas, face à incompetência, omissão e negligência das polícias e de outros órgãos e agentes públicos (sic) de Mato Grosso do Sul no combate à poluição sonora veicular.

Mais triste ainda é ver delegados de polícia e outros, chamados técnicos da área de Engenharia, Arquitetura, Segurança e Ambiental, posando de papagaios de pirata em campanha de políticos embusteiros que se elegeram com discurso ambiental e comunitário, mas que trabalham em favor da legalização do barulho.  Ora, esses deveriam ser os primeiros a defende intransigentemente, a LEI DO SILÊNCIO e a qualidade de vida de quem pede tão somente sossego e tranquilidade no próprio lar.

Se professores não conseguem, em sala de aula, impedir que alunos fânkeyros usem boné com aba virada para trás, usem fone de ouvido e ouçam fânkye pornográfico e sertanojo dentro da escola, a situação extrapolou os limites da Música, Psicologia, da Pedagogia, da Didática e os limites do espaço físico da escola. Passou para a esfera policial, penal, jurídica. Mas, lamentavelmente, esses setores são incompetentes, omissos e negligentes no combate à poluição veicular e aos danos correlatos que a envolvem.

Dias atrás, no cruzamento da avenida Orla com avenida Salgado Filho, não satisfeito em ter me dado um fechada próximo à loja de Gilmar Bicicletas, um agroboy parou no semáforo seguinte, abaixou os vidros pretos do carro, aumentou ao máximo o volume do seu possante, riu na minha cara e ainda me falou um monte de palavrões. Tudo isso foi assistido por um PM fardado e armado, que estava numa moto particular. O policial se fez de surdo e cego. E o agroboy me seguiu até a avenida Bandeirantes, dando novas fechadas no meu carro e gritando que se eu fosse “homem”, eu desceria do carro e o enfrentaria.

Estranhamente, ninguém escuta música clássica em ato volume e tenta obrigar outros a ouvirem junto. Mas os fânkeyros, os pagodeiros e os sertanojos, praticam a violência de estuprar os nossos ouvidos, e ninguém reage. A Constituição da República Federativa do Brasil (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm), aprovada em 1988, diz que o Estado Democrático de Direito tem como fundamento a Cidadania e a Dignidade dos Humanos. Diz, também, que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”; e, diz, ainda, que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. A Carta Maior e outros instrumentos legais estão repletos de conteúdo que deveriam assegurar o nosso direito ao silêncio, ao sossego e à tranquilidade, e não de sermos obrigados a consumir o lixo sonoro de outrem. Mas, falta quem lhes dê provimento e faça com que os agentes públicos executem sua função corretamente.

Enfim, cada um tem o direito de ouvir o que bem entender. Só não tem o direito de obrigar pessoa alguma a ouvir junto. O silêncio é (teoricamente) um patrimônio publico defendido por lei e deveria (supostamente) ser respeitado obrigatoriamente.  Mas, como vivemos em uma democracia incipiente... sobe o som...


Mário Márcio da Rocha Cabreira
Professor de Língua Portuguesa.  MEC 0087.

Técnico em Assuntos Educacionais na UFMS.

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